O Tesouro



 Ou os guias voluntários tinham jeito e cara de terroristas ou o sol já estava fritando meus miolos e meus nervos. A curiosidade, no entanto, era maior que o senso de preservação.  Escolhemos o guia que nos pareceu menos perigoso e seguimos atrás dele. Andamos, andamos e nem sinal de pirâmide ou qualquer outra construção faraônica naquele cenário desértico de calor opressivo. Um cachorro magrela atravessa o nosso caminho. O primeiro ser vivo que encontramos depois de minutos que pareciam eternos. Encontramos, então, um outro grupo de homens mal encarados, vestidos em bata e turbante.
Nosso guia sai correndo. Meu coração dispara. Imagino assalto, violência, morte, e manchete de jornal (coisa de quem já foi jornalista um dia). Minha cabeça roda, roda, mas não consigo tirar os olhos do grupo que também nos olha dos pés a cabeça. Até que uma voz do além me tira do transe de medo. Era o guia, chamando por nós e apontando para alguma coisa no chão. Não precisou chamar duas vezes e lá estava eu correndo como se fosse atleta em direção ao homem que segundos atrás eu imaginava ter nos trazido para uma emboscada.
Um buraco no chão, protegido por grades obviamente arrombadas, era o ponto de chegada para o nosso tesouro.


Olhando mais de perto, avistamos um pátio com colunas e bonitas pinturas em tons de vermelho lá embaixo. Parecia mesmo uma daquelas cenas de “Indiana Jones.” Descemos um morro de areia e encontramos um portão igualmente arrombado. Na placa ainda legível lia-se “Tumba de Ti,” também chamada de “Mastaba de Ti.” Mastabas são sepulturas reais em forma retangular, com estruturas subterrâneas. Elas antecedem ao formato de pirâmides. Nesta, achamos muito do que esperávamos encontrar nas famosas sepulturas triangulares. Hieroglifos, diversas pinturas nas paredes, e até uma estátua tamanho real do todo poderoso Ti (o faraó dono da tumba). Só depois descobrimos que a estátua era uma cópia. A original se encontra no Museu Egípcio de Cairo. Parte da estrutura me fez lembrar do formato interno da pirâmide menor de Giza, com passagens pequenas interligando as diversas câmaras ao “quarto” principal, onde a tumba era mantida. Era mesmo um tesouro enterrado no deserto. E a temperatura, muito mais convidativa do que o ar seco e delirante do lado de fora, nos convenceu a passar mais um tempinho admirando a sepultura faraônica.



O cenário perto de onde a gente achou a tumba de Ti.
Fotos: Ken Rathbun & Wal Nascimento
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