Residente e Permanente!

Depois de uma noite não dormida e muitas preocupações passadas, a manhã sorridente, fácil e bem sucedida no departamento de imigração. O mau tempo sem claridade, a minha sonolência e o nervosismo do meu marido conspiravam contra nós, mas a entrevista foi tão rápida que nem chegou a doer.
Tudo começou com o juramento de só falar a verdade, nada mais que a verdade, sob pena de cadeia em caso contrário. De pé, em respeito à bandeira e aos Estados Unidos (e eu que entrei e já fui logo sentando na primeira cadeira que me apareceu pela frente). Nenhuma das perguntas estudadas caiu no interrogatório (como em prova de vestibular...a propósito, ainda existe vestibular?). Decorei datas de aniversário, nomes completos e locais de nascimento à toa. Em vez disso, perguntas sobre minhas intenções e planos sobre prostituição, sequestro, terrorismo e poligamia. Usei todo o meu Inglês pra dizer "no" durante a maior parte da entrevista.
Da montanha de documentos e provas de que nosso casamento não é uma fraude, a oficial de imigração selecionou e arquivou uns poucos papéis sobre histórico bancário e todas as quase 100 fotografias impressas via Wal-mart um dia antes. Pensei que era só pra olhar, não pra ficar de vez. Saímos sem álbum mas com um novo selo no passaporte e dois rostos estampados com um sorriso de orelha a orelha.

Numa fria

Pesca de inverno. Há quem faça isso por prazer. Loucos e masoquistas a gente encontra em todo lugar. E pra exercer essa atividade é preciso dominar a técnica de andar sobre a água. Se aprender rápido e sem quedas, é possível dirigir sobre a água e mesmo morar sobre a água por alguns dias. Com tudo congelado, a maior dificuldade é conseguir ficar em pé sem uma bela escorregada, que em alguns casos pode ser fatal (o sujeito pode quebrar o pescoço numa queda de mal jeito, ou pior, pode quebrar o gelo e experimentar o mergulho da morte). Botas especiais, precaução e o mínimo de instinto de auto-preservação ajudam. Alguns decidem ir até o meio do lago dirigindo. Os mais experientes (e inteligentes) só dirigem quando há certeza de que a placa de gelo tem pelo menos um metro de espessura. Os pescadores compulsivos levam barraca, banquinho, cama e aquecedor. A pesca pra esses dura no mínimo dois dias seguidos. A técnica é simples. Com o auxílio de uma máquina, eles fazem um buraco no gelo de mais ou menos 80 cm de diâmetro, daí é só sentar no banquinho e esperar com um arpão em mãos. Alguns voltam pra casa com belos troféus, outros voltam com belas experiências e outros infelizmente não voltam, porque nem sempre é dia de pesca e dia de pescador por aqui costuma ser trágico.

Síndrome da insensibilidade climática

No meu tempo de Brasil, cheguei à conclusão de que moleque não sente calor. A turma perto de casa passava o dia naquele sol de escaldar e de fritar empinando papagaio, jogando futebol nos campinhos de terreno baldio, correndo atrás de confusão. Um bando de curumins imunes ao sol. Desse lado dos States, penso, a molecada sofre da mesma insensibilidade climática só que invertida. O termômetro marca 10 abaixo de zero, a gente mal consegue atravessar os três metros que vão do estacionamento à porta de casa e a turminha tá lá, há duas horas no quintal escorregando em tampa de lixeira, fazendo bonecos, movimentando braços e pernas na neve pra fazer anjinho, fazendo guerra e correndo atrás de confusão...Tenho a impressão de que a síndrome se cura em algum ponto entre a adolescência tardia e a fase adulta, mas alguns poucos não se curam.

Pé na estrada...com muito cuidado.

Nesse inverno nevado, dirigir é uma perigosa aventura. O gelo forma uma fina camada no asfalto... Suficiente pra deixar tudo lisinho, lisinho... Uma escorregada e... era uma vez um carro perfeito. Não é raro ver polícia e 911 se aglomerando em mais um local de acidente, que, geralmente, não é muito grave (dependendo de como vc analisa a situação, eu considero a gravidade pelo número de mortes). Dia desses um caminhão cheio de carga (desconhecida por mim) bateu no pilar de uma ponte. Foi um tormento pra motoristas desavisados cujos carros formaram um engarrafamento de quilômetros. O caminhão ficou em desgraça, a carga foi perdida, a ponte partiu e o trecho foi obstruído, mas milagrosamente, o motorista saiu vivo e tecnicamente inteiro.

Além do gelo, o nevoeiro que se forma por dias a fio, dificulta a visibilidade e por alguma razão me faz lembrar das estradas empoeiradas da Amazônia. Mas o asfalto é bom, as estradas recebem manutenção diária (com gente e máquinas retirando a neve e o gelo) e a paisagem, quando visível, é de uma brancura que acalma. Parece propaganda de sabão em pó. E quando o sol decide aparecer, tudo fica ainda mais claro e brilhante. Bonito, muito bonito de ver, e, olhando assim do lado de dentro do carro, sem a sensação de frio abaixo de zero, parece mais um agrupamento de dunas de areia em alguma praia perto do mar.

Um passeio pela Tv Americana



 A novidade é que não tem muita novidade. Eles fazem tecnicamente o mesmo e com a mesma tecnologia... Mudança de dvd pra cartão em andamento (o diretor do departamento de tecnologia ficou impressionado quando eu disse que a gente já tava fazendo isso em Santarem, láaaa na Amazônia), trabalho em dupla (repórter e cinegrafista, raramente um assistente porque eles dizem que 3 é demais), produção de pautas, repórteres reclamando ou mudando as pautas por conta própria, gravação em estúdio e apresentações ao vivo, apresentadores fazendo a maquiagem e penteando os cachos por conta minutos antes da apresentação, repórteres chegando com notícias de última na hora da apresentação, esses detalhes que fazem o estress e a adrenalina do jornalismo... Talvez a maior diferença seja o salário...E olhe que as reclamações são as mesminhas.