Viagem a Juruti

Juruti é uma cidade deste tamanhinho onde asfalto é coisa rara, sinalizaçao de transito inexistente e onde há uma superpopulaçao de motos. Elas estão por toda parte. Mototaxis econômicas e espaçosas. Com o jeitinho tão conhecido do brasileiro, numa cabe um, dois, tres, a família inteirinha se equilibra sobre duas rodas! Em vez de capacete, o motoqueiro usa boné, muito preocupado com os efeitos nocivos do sol. Uma confusão que só num é maior do que o número de pessoas que chega de outros lugares do Pará e de outros Estados. Vêm em busca de um lugar ao sol, que em Juruti brilha agora mais intensamente e é vermelho. Desde a descoberta da jazida de bauxita e da instalaçao da Alcoa em Juruti, sobram empregos, mas falta a estrutura necessária para atender tanta gente. O preço do progresso é a degradaçao ambiental, inevitável. E eu nem sabia que bem pertinho do Amazonas, tinha um lago tão verde e tão bonito como Juruti Velho.Verde e quente, como no conto da Ligia Fagundes. Ameaçado, também. Mas as promessas de compensaçao ambiental, assinadas em forma de documento pela empresa produzem a sensaçao de segurança no povo, de que tudo vai ficar bem, mesmo sabendo que nao vai ficar tão bem assim. A maior preocupaçao, no entanto, é com os impactos sociais.Que lugar terá o povo da terra nesse bum de desenvolvimento que a cidade experimenta? Sem qualificaçao fica difícil acompanhar o ritmo do progresso e os melhores empregos ficam para os melhores de fora. A história contada em Oriximiná, com o mesmo enredo, não está tendo um final tão feliz.

A primeira cirurgia

O tampão no olho esquerdo diminuiu ainda mais a minha noçao espacial... Trombei com a mesma porta duas vezes. Mas não consegui ficar na cama e, tão logo a dor virou a esquina, eu já estava andando de um lado para o outro, agoniada pra sair, conversar, ser centro de atenções, ainda que o motivo fosse aquele curativo ridículo em cima do olho. Um instante antes da operaçao eu ainda me perguntava se aquele procedimento era mesmo necessário e se eu não podia esperar mais 30 dias pra medicaçao alternativa fazer efeito. Decidi que era válido, pela novidade da experiência. Calázio parece nome de doença de cachorro, mas na verdade é um calo, um tipo de cisto que se forma sob as pálpebras devido ao entupimento de uma glândula. Foi o que me fez entrar pela primeira vez numa sala de cirurgia.Não sem antes descobrir que pra fazer um corte acima do olho precisava ficar despida, e, de conhecer um pouco da história de pacientes recém-saídas da mesa de operaçao. Aí veio a parte chata da brincadeira. Fura daqui, corta dali, vira a pálpebra do avesso... ai, ai... Saí da clínica com vontade de chorar em colo de mãe, mas a vergonha foi muito maior do que a vontade e o colírio anestésico, bem, a seu jeito já estava fazendo efeito mesmo... ardia tanto que me fazia esquecer de qualquer dor.

Acoooorda bichinho!
















Ai, que saudades do Arapiuns! Que saudades da várzea, que saudades de tudo e eu ainda nem fui embora.
Esta ultima semana de trabalho eu me decidi a matar as saudades de tudo e a fazer todas as derradeiras viagens... o que me mata é este olho, mas daqui uns dias e ele já vai estar novinho. Conto amanhã sobre o olho, sobre as viagens, sobre a minha partida, sobre tudo o mais que me vier a cabeça, que agora vou assistir ao LOST.