Auto-riquixá


O jeito mais barato, ventilado e divertido de atravessar Delhi, se não for incoveniente demais andar com a bolsa cheia de frutas, e eu já explico o porquê. É que em Delhi, mendigos e pedintes estão por toda a parte, principalmente crianças. Por conta dos jogos internacionais do Bem Comum (se estou traduzindo certo a organização inglesa), coibição à mendigagem é bastante em voga. Há propagandas contra dar dinheiro a pedintes em cartazes, tv e companhia. E nas ruas de Delhi, com o trânsito já fechado, pesado, buzinento e malcheiroso por si, em cada esquina um sinal vermelho, em cada sinal, um assalto de rostinhos sujos, mãos estendidas e olhos esperançosos. Muitos turistas preferem o conforto dos carros devidamente arcondicionados e com vidros que os protegem da realidade. O auto-riquixá não tem esse artifício. É espaço aberto e vulnerável. E mesmo sabendo que por trás daqueles pequeninos mensageiros pode estar a horrenda máfia de miseráveis que se aproveitam da miséria alheia, é de partir o coração só de pensar em fechar os olhos ou virar o rosto. Minha primeira viagem me pegou desprevenida. As poucas barras de cereal que tinha na bolsa acabaram depois do primeiro semáforo. A experiência serviu para os próximos dias. Não saíamos do apartamento de mãos vazias. Bananas, laranjas, tangerinas, biscoitos, nem sempre bem apreciados por adultos que mais lucrariam com moedas. E nisso achei surpreendente contentamento, um senso de paz, de não estar colaborando com o vício de outros. Mas a recompensa maior veio na satisfação de crianças satisfeitas e sorridentes com o inusitado presente. Uma delas me deu o mais inesquecível sorriso de toda essa viagem.

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