Sobre a tempestade

Nunca vi tanta agua caindo do ceu de uma vez só.  Ilhada em casa, sem luz ou internet,  descubro que o telhado não é tão bom quanto parecia no começo.  Água caindo do teto e se atirando janela adentro como cachoeira.  Depois das primeiras doze horas, restou-nos a cama como lugar seguro, seco e quentinho.  Tudo o mais alagado.  Livros e uma boa dose de bom humor pra ajudar a passar o tempo.  E pipoca com bolo de chocolate pra enganar a barriga que nao sabe sentir outra coisa alem de fome nessas horas.   E pensar que a gente comprou o kit tempestade pra calafetar as janelas mas nao teve tempo de montar.  Depois da tempestade, veio a faxina e a espera ansiosa por um sol preguiçoso.  Nada como a instabilidade clim'atica jamaicana.

Pasmo

Eu enfrento uma tempestade de 44 horas na Jamaica e descubro que o ceu ta caindo é no Brasil... Quem foi que elegeu o Tiririca?
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Um estranho entre nós

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Na onda do amor...

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Patriotismo

Futebol nunca foi minha paixão, especialidade ou interesse. Minha quase antipatia pelo esporte só muda de 4 em 4 anos por razões obviamente patrióticas. Sou brasileira fielmente apaixonada pelo país e não preciso entender de bola pra me unir à torcida e gritar goooooool! Não preciso aprender como xingar a mãe do juiz porque isso não se faz e todo mundo aprende a fazer sem ninguém ensinar mesmo. Não preciso sequer saber os nomes dos jogadores, basta lembrar a cor da camisa e tá tudo certo... eu acho. E deu tudo certo na torcida de estréia do Brasil na Copa esse ano. Dos super jogadores, só Kaká e Robinho eram criaturas mais ou menos familiares pra mim, os demais novos rostos eram diferentes o suficiente dos jogadores coreanos pra confundir. O único problema é que, como todos os demais patriotas, acredito religiosamente que o Brasil é a melhor seleção do planeta e desde que não entendo muito da matéria, minhas expectativas são nada realistas e quase nunca satisfeitas. Fico decepcionada se não tenho um legítimo motivo pra gritar "gooooooool!" ou pelo menos "quaaaaaase!" a cada cinco minutos de partida. Considero um insulto extremo se o time número 114 consegue fazer gol no meu time número 1. Que audácia! E eu que cheguei a gritar gol por um segundo, sem pensar na cor da camisa ou formato de rosto...Tudo bem, essas feridas no orgulho a gente supera, além do mais, time que ganha é sempre melhor do que time que empata ou perde.
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Manhã surpreendente de sol e céu azul!

Em Londres sol é produto raro e de luxo. Quando aparece com um céu bonito assim de um azul assim então, é como se fosse feriado municipal! O povo troca os carros pelas pernas, caminha pelas ruas e parques, aproveita o calor e veste menos. Esse é o palácio de Kensington, onde a rainha Victória nasceu e foi criada, e que também foi lar da princesa Diana... Ainda conto essa história direito, quando tiver mais tempo e disposição...

Londres

Contemplei Londres pela primeira vez com os olhos da imaginação. Foi aos 7 anos de idade, lendo o livro "A Pequena Princesa" de Frances Hodgson Burnett. O primeiro livro sem figuras coloridas que li, de onde também herdei as primeiras impressões do mundo indiano.
As manhãs chuvosas e geladas  ganharam maior tonalidade e novas nuances, mas estavam tão bem desenhadas na memória, que me pareciam familiares desde os primeiros passos pelas ruas de Londres.
Pompa e história estão por toda a parte e é difícil fixar os olhos em um só objeto de admiração. O fascínio da realeza, de todo aquele cerimonialismo austero, das tradições, das histórias de heróis medievais, das batalhas sangrentas, dos cenários de tortura e de execução, dos príncipes e princesas de carne e osso, dos reis e rainhas que fizeram a história nem tão bonita como nos contos infantis, nem tão feia que não tenha magia e encantamento. Romance, tragédia, comédia, enganos, acertos e erros escritos com sangue e suor e boa oratória de grandes escritores.
Londres de Sherlock Homes, de Jeeves and Wooster e de Minha Bela Dama. Londres dos romanos, dos anglo-saxões,  dos cavaleiros medievais, dos Tudor, dos Stuart, de Victória e Elizabeth. Ah, Londres das artes, da ópera, dos musicais, da pompa das noites de gala! Nenhum lugar melhor para assistir ao Fantasma da Ópera em versão original e bem afinada.
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Primeiras impressões

Foi a noite mais curta da minha vida. Deixamos Chicago às 11 da noite e pousamos em Londres 6 horas depois, quase 10 da manhã no relógio britânico. E vi pela primeira vez uma típica manhã londrina: fria, cinzenta e molhada.
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Mudando de ares

Comecei essa aventura na Inglaterra. Comecei essa conversa de aventura prometendo falar da Inglaterra. Mas como falar da Inglaterra quando a India foi  tão mais colorida e é tão mais vívida na memória? A Inglaterra tem, porém, seu fascínio e merece alguns textos nesse blog. Hora de trocar o calor de Delhi e Mombaim pelo frio romântico e a chuva incessante de Londres! Cidade mais bonita, só mesmo o Rio de Janeiro! (Eu e minhas preferências pelo calor dos trópicos...)
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Transporte coletivo













Onde cabem dois, cabem três...Ainda mais quando a maioria segue a pé.
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Por amor




Agra é cheia de monumentos históricos. Prédios ofuscados pelo mais famoso de todos: O Taj Mahal. A maravilha arquitetônica é considerada ainda mais bela por ser uma obra de amor. Todo em mármore branco, de uma brancura ofuscante, o Taj é cravejado de pedras semi-preciosas. O delicado colorido  preenche os arranjos florais que emolduram o prédio.
Toda essa beleza é, na verdade, uma gigantesca sepultura para a esposa favorita do imperador Shah Jaham. Durante o reinado de sólida prosperidade, o soberano construiu dezenas de obras impressionantes, entre elas, o gigantesco Forte Vermelho, em Delhi, e o Forte de Agra. Nada se comparados à excelência e à beleza do Taj Mahal.
Alguns acreditam que Shah Jahan planejava fazer a própria sepultura em idênticas proporções, toda em mármore negro, o que seria uma espécie de negativo do Taj. Mas o filho do soberano, preocupado com os gastos do pai excêntrico, decidiu que o melhor seria tomar a direção a tempo de evitar a bancarrota do reinado.
Conspiração pensada e praticada, o filho usurpou o reino e trancafiou o pai no Forte de Agra. Das janelas do cativeiro,  Shah Jahan  podia contemplar sua obra prima. O corpo do imperador foi depositado ao lado do da esposa*, e assim o Taj Mahal perdeu a simetria interna. Não perdeu, porém, o encanto com o qual apaixona visitantes de todo o mundo.


* A sepultura da esposa Mumtaz Mahal (que significa "a eleita do palácio) foi plantada bem no meio do Taj Mahal. A sepultura de Shah Jahan foi colocada ao lado e assim, a obra deixou de ser simétrica.


Entre os mais diversos meios de transporte indianos, camelo não é por certo o mais rápido ou agradável. O animal segue lenta e atrapalhadamente pelo asfalto apinhado de vendedores, turistas, mulheres em panos coloridos, bichos exóticos e veículos mais rápidos do que ele. Vez por outra, o bichão põe pra fora tudo o que foi descartado pelo corpo durante o processo de digestão. Uma bolsa (enorme), atrelada a ele, armazena o excremento. Pra quem está de carona atrás de toda aquela massa malcheirosa a viagem passa a ser uma lição de como manter o estômago sob controle. De qualquer forma, uma experiência divertida.
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E toda essa inspiração me vem a custo de uma noite mal dormida, depois de ver os Celtics perderem vergonhosamente para os Lakers na final da NBA. Esperanças adiadas para mais um jogo que espero ser bem diferente.  O que falta de humor e paciência parece estar sobrando em vontade de escrever. Quanto ao Brasil, que a meu ver não fez bonito nem feio na estréia da Copa do mundo, toda a minha torcida de melhores apresentações.

Inspiração repentina

Acordei decidida a escrever mais uma aventura direto das Indias, se é que ainda me lembro de notícias passadas.  Não sei como fui jornalista por quase seis anos e nunca me demitiram, porque ô moleza pra postar em tempo real. Daí que eu tenho que confiar na memória, que não é das boas.  Prometo fazer disso conto ligeiro em vez de romance dramalhão. Se não for bom, pelo menos há de ser curto.
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Auto-riquixá


O jeito mais barato, ventilado e divertido de atravessar Delhi, se não for incoveniente demais andar com a bolsa cheia de frutas, e eu já explico o porquê. É que em Delhi, mendigos e pedintes estão por toda a parte, principalmente crianças. Por conta dos jogos internacionais do Bem Comum (se estou traduzindo certo a organização inglesa), coibição à mendigagem é bastante em voga. Há propagandas contra dar dinheiro a pedintes em cartazes, tv e companhia. E nas ruas de Delhi, com o trânsito já fechado, pesado, buzinento e malcheiroso por si, em cada esquina um sinal vermelho, em cada sinal, um assalto de rostinhos sujos, mãos estendidas e olhos esperançosos. Muitos turistas preferem o conforto dos carros devidamente arcondicionados e com vidros que os protegem da realidade. O auto-riquixá não tem esse artifício. É espaço aberto e vulnerável. E mesmo sabendo que por trás daqueles pequeninos mensageiros pode estar a horrenda máfia de miseráveis que se aproveitam da miséria alheia, é de partir o coração só de pensar em fechar os olhos ou virar o rosto. Minha primeira viagem me pegou desprevenida. As poucas barras de cereal que tinha na bolsa acabaram depois do primeiro semáforo. A experiência serviu para os próximos dias. Não saíamos do apartamento de mãos vazias. Bananas, laranjas, tangerinas, biscoitos, nem sempre bem apreciados por adultos que mais lucrariam com moedas. E nisso achei surpreendente contentamento, um senso de paz, de não estar colaborando com o vício de outros. Mas a recompensa maior veio na satisfação de crianças satisfeitas e sorridentes com o inusitado presente. Uma delas me deu o mais inesquecível sorriso de toda essa viagem.

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De volta!

Então.... Dois meses inteiros de aventuras pra contar... Aventuras bem vividas e documentadas com um zilhão de fotografias... A gente não pensa muito no trabalho que dá por todas aquelas imagens em ordem quando está fazendo pose em frente da câmera... Começo hoje ainda... promessa... Tou pensando em começar do começo... Elementar meu caro Watson, como diria meu amigo amante de cachimbos. Nada como um pouco organização...
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Acentos e assentos

Escrevo de um computador sem acentos em Portugues...E com um assento pra l'a de gasto... Entao nao espere muito cuidado com o vern'aculo, que h'a muito mais para cuidar por aqui.
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Usando a l'ingua

Uma semana na India e j'a consigo dizer algumas frases curtas em Hindi e em Simte (uma das centenas de tribos indianas). O que nao 'e muito. Para o padrao ocidental, dominar uma segunda l'ingua pode ser suficiente. Quase todo indiano em Delhi fala pelo menos 3 idiomas pra sobreviver. Criancas aprendem em ingles e em hindi (a lingua nacional) nas escolas por serem essas as l'inguas francas por aqui. Um vendedor tentou me convencer a comprar uma colcha rendada. Ele iniciou a conversa em Hindi( nao sei porque as pessoas imaginam que eu seja indiana). Obviamente nao deu certo. Trocamos algumas palavras em ingles, falou com minha acompanhante em Simte e, quando finalmente descobriu que eu sou brasileira, desatou a falar num misto de Portugues com Espanhol. Fiquei pasmada com tanta habilidade lingu'istica, e quase obrigada a comprar o produto. Minha acompanhante e nova amiga indiana fala 6 idiomas. O m'inimo que eu posso fazer 'e tentar aprender alguma coisa com toda essa versatilidade. E versatilidade 'e uma palavra que traduz muito nessa babel populosa que 'e a capital indiana.
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Do futuro

Escrevo do futuro. 12 horas de diferenca no fuso horario...e sem nenhuma fotografia pra postar...
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India

O feio e o belo, o passado e o presente, o rico e o paup'errimo, tudo misturado.
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Viajando...

Tanto assunto pra escrever, tantas fotos pra postar e quase nada de tempo pra internet...Mas, promessa, em breve, alguns posts legais das super-aventuras na Inglaterra. Esse lugar 'e o bicho da goiaba!!!!!!

Depois da tempestade...















Vêm os acidentes...

Adeus por antecipação


Já estou com saudades dessa brancura sem fim. É frio de doer, mas é tão bonito. Depois de amanhã, neve talvez só em alguns anos. Na Inglaterra a curta temporada de neve já passou. Interessante é que durante anos não nevava por lá. Muitas crianças inglesas ficaram tão surpresas quanto eu ao ver neve pela primeira vez. Mas durou pouco. Bom pra eles. A volta pros E.U.A. acontece quase no verão e aí a gente desmonta acampamento rumo à Jamaica, onde neve só mesmo de algodão, como a gente costuma fazer no Brasil em tempos de natal. Foi bom. Duas coisas que não fiz e talvez não tenha tempo de fazer antes da viagem: Boneco e Anjinho de neve.

De malas prontas!

As malas estão prontas desde a última terça-feira. Já foram pesadas e revistoriadas uma dezena de vezes... Nenhum ml a mais de shampoo, nenhum mapa a menos, e uma extensa lista de atividades planejada e projetada para os próximos dois meses que prometem ser os melhores dessa temporada de viagens. Duas semanas na Inglaterra, 1 mês inteiro na India e mais duas semanas na Escócia. Daí que fazer malas pra dois climas completamente opostos em doses intercaladas não é tarefa fácil. Roupas de frio na mala preta, roupas de calor na mala vermelha, suplementos alimentares, itens de higiene e de primeiros socorros plastificados e bem separados, uma longa dose de encomendas feitas por gente de três países e ainda tem que sobrar espaço para sapatos e livros. A equação foi resolvida depois de muito esforço mental e físico. Já tentou fechar uma mala contendo o dobro de volume permitido? O mais preocupante, porém, era o peso, e este, milagrosamente consta abaixo do estimado.

Museu Abraham Lincoln

O que mais me encanta na biografia de Lincoln é o que pode ser lido nas entrelinhas do rosto pintado e recriado por artistas diversos. Tristeza, não depressão. Sabedoria, não arrogância. Compaixão em vez de austeridade. E paciência, muita paciência. Um caráter moldado pelo sofrimento e pela força de vontade desde os primeiros anos de infância desse homem sem religião declarada que demonstrava ter muito conhecimento de Deus.










Em 1858 Abraham Lincoln tentou ser eleito como senador mas foi derrotado por Stephen Douglas.Inimigo político e, a meu ver, pessoal.  E foi nessa batalha perdida que Lincoln ganhou renome e respeito. Dois anos depois ele seria eleito presidente num dos processos eleitorais mais dramáticos dos Estados Unidos, na fase mais dramática do país. Estados do Sul sequer tinham o nome dele na cédula de votação. O discurso abolicionista de Lincoln e o sistema econômico baseado na mão-de-obra escrava não combinavam. O Norte, com economia mais forte e menos dependente de escravos, apoiava o presidente. Daí veio a guerra civil. Milhares de mortes num episódio que dividiu famílias e alistou meninos soldados. Quase cinco anos sob pressão social e política. E sob pressão você mostra quem realmente é. Lincoln mostrou-se um exemplo de líderança e humanidade (no bom sentido do termo).



Lincoln e eu.

E o que era bom virou mau

Quem vive longe do país sabe bem o que é saudade e como a gente faz de tudo pra saber se vai tudo bem nesse Brasilzão de todos nós. Notícias boas me fazem encher a boca e o peito pra dizer "eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor..." e coisas assim... Notícias ruins me deixam triste. Mas certas notícias me deixam indignada, como o caso da estudante que teria sido impedida de assistir a aula por estar usando roupa curta.

Houve um tempo no Brasil em que "Moral e Cívica" era uma disciplina encaixada na grade curricular. Em respeito à Bandeira e ao País, alunos cantavam de cor o hino nacional com as mãos no peito e a cara pro sol e nem pensar em boné na cabeça, o que era considerado severo desrespeito. Nas escolas públicas da minha cidade (Santarém), alunos entravam na sala de aula de uniforme passado e engomado. Excessão só mesmo em caso de extrema necessidade, geralmente no início do ano, quando os pais não tinham dinheiro suficiente pra comprar uniforme e material didático tudo ao mesmo tempo. Shorts e bermudas  eram permitidos pra Educação Física que era em outro horário pra não dar confusão. E responder feio pra professor era caso de suspensão ou coisa pior. Daí que as escolas e o Brasil e o mundo vão mudando, mudando... O uniforme foi abolido há tempos...  ninguem quer nem saber de vestir a mesma roupa todo-mundo-igual. Hino nacional só em tempo de copa e só aqueles três ou quatro primeiros versos, como é que é mesmo? Aula de boas maneiras? Responder pra professor?  Que nada, bater em professor é que não é politicamente aceitável (ainda), sem brincadeira, nem exageros. A aula de moral foi pro beleléu e o respeito perdeu o lugar dentro e fora da escola... E quanto a roupas, bem, o aluno pode ir como bem quiser e entender. Cada um faz o que dá na telha. A estudante pode escolher a menor micro saia do armário pra assistir aula que tá tudo bem. Se professor reclama ou põe pra fora, é julgado e condenado por desrespeitar o aluno. E o respeito ao professor?

Residente e Permanente!

Depois de uma noite não dormida e muitas preocupações passadas, a manhã sorridente, fácil e bem sucedida no departamento de imigração. O mau tempo sem claridade, a minha sonolência e o nervosismo do meu marido conspiravam contra nós, mas a entrevista foi tão rápida que nem chegou a doer.
Tudo começou com o juramento de só falar a verdade, nada mais que a verdade, sob pena de cadeia em caso contrário. De pé, em respeito à bandeira e aos Estados Unidos (e eu que entrei e já fui logo sentando na primeira cadeira que me apareceu pela frente). Nenhuma das perguntas estudadas caiu no interrogatório (como em prova de vestibular...a propósito, ainda existe vestibular?). Decorei datas de aniversário, nomes completos e locais de nascimento à toa. Em vez disso, perguntas sobre minhas intenções e planos sobre prostituição, sequestro, terrorismo e poligamia. Usei todo o meu Inglês pra dizer "no" durante a maior parte da entrevista.
Da montanha de documentos e provas de que nosso casamento não é uma fraude, a oficial de imigração selecionou e arquivou uns poucos papéis sobre histórico bancário e todas as quase 100 fotografias impressas via Wal-mart um dia antes. Pensei que era só pra olhar, não pra ficar de vez. Saímos sem álbum mas com um novo selo no passaporte e dois rostos estampados com um sorriso de orelha a orelha.

Numa fria

Pesca de inverno. Há quem faça isso por prazer. Loucos e masoquistas a gente encontra em todo lugar. E pra exercer essa atividade é preciso dominar a técnica de andar sobre a água. Se aprender rápido e sem quedas, é possível dirigir sobre a água e mesmo morar sobre a água por alguns dias. Com tudo congelado, a maior dificuldade é conseguir ficar em pé sem uma bela escorregada, que em alguns casos pode ser fatal (o sujeito pode quebrar o pescoço numa queda de mal jeito, ou pior, pode quebrar o gelo e experimentar o mergulho da morte). Botas especiais, precaução e o mínimo de instinto de auto-preservação ajudam. Alguns decidem ir até o meio do lago dirigindo. Os mais experientes (e inteligentes) só dirigem quando há certeza de que a placa de gelo tem pelo menos um metro de espessura. Os pescadores compulsivos levam barraca, banquinho, cama e aquecedor. A pesca pra esses dura no mínimo dois dias seguidos. A técnica é simples. Com o auxílio de uma máquina, eles fazem um buraco no gelo de mais ou menos 80 cm de diâmetro, daí é só sentar no banquinho e esperar com um arpão em mãos. Alguns voltam pra casa com belos troféus, outros voltam com belas experiências e outros infelizmente não voltam, porque nem sempre é dia de pesca e dia de pescador por aqui costuma ser trágico.

Síndrome da insensibilidade climática

No meu tempo de Brasil, cheguei à conclusão de que moleque não sente calor. A turma perto de casa passava o dia naquele sol de escaldar e de fritar empinando papagaio, jogando futebol nos campinhos de terreno baldio, correndo atrás de confusão. Um bando de curumins imunes ao sol. Desse lado dos States, penso, a molecada sofre da mesma insensibilidade climática só que invertida. O termômetro marca 10 abaixo de zero, a gente mal consegue atravessar os três metros que vão do estacionamento à porta de casa e a turminha tá lá, há duas horas no quintal escorregando em tampa de lixeira, fazendo bonecos, movimentando braços e pernas na neve pra fazer anjinho, fazendo guerra e correndo atrás de confusão...Tenho a impressão de que a síndrome se cura em algum ponto entre a adolescência tardia e a fase adulta, mas alguns poucos não se curam.

Pé na estrada...com muito cuidado.

Nesse inverno nevado, dirigir é uma perigosa aventura. O gelo forma uma fina camada no asfalto... Suficiente pra deixar tudo lisinho, lisinho... Uma escorregada e... era uma vez um carro perfeito. Não é raro ver polícia e 911 se aglomerando em mais um local de acidente, que, geralmente, não é muito grave (dependendo de como vc analisa a situação, eu considero a gravidade pelo número de mortes). Dia desses um caminhão cheio de carga (desconhecida por mim) bateu no pilar de uma ponte. Foi um tormento pra motoristas desavisados cujos carros formaram um engarrafamento de quilômetros. O caminhão ficou em desgraça, a carga foi perdida, a ponte partiu e o trecho foi obstruído, mas milagrosamente, o motorista saiu vivo e tecnicamente inteiro.

Além do gelo, o nevoeiro que se forma por dias a fio, dificulta a visibilidade e por alguma razão me faz lembrar das estradas empoeiradas da Amazônia. Mas o asfalto é bom, as estradas recebem manutenção diária (com gente e máquinas retirando a neve e o gelo) e a paisagem, quando visível, é de uma brancura que acalma. Parece propaganda de sabão em pó. E quando o sol decide aparecer, tudo fica ainda mais claro e brilhante. Bonito, muito bonito de ver, e, olhando assim do lado de dentro do carro, sem a sensação de frio abaixo de zero, parece mais um agrupamento de dunas de areia em alguma praia perto do mar.

Um passeio pela Tv Americana



 A novidade é que não tem muita novidade. Eles fazem tecnicamente o mesmo e com a mesma tecnologia... Mudança de dvd pra cartão em andamento (o diretor do departamento de tecnologia ficou impressionado quando eu disse que a gente já tava fazendo isso em Santarem, láaaa na Amazônia), trabalho em dupla (repórter e cinegrafista, raramente um assistente porque eles dizem que 3 é demais), produção de pautas, repórteres reclamando ou mudando as pautas por conta própria, gravação em estúdio e apresentações ao vivo, apresentadores fazendo a maquiagem e penteando os cachos por conta minutos antes da apresentação, repórteres chegando com notícias de última na hora da apresentação, esses detalhes que fazem o estress e a adrenalina do jornalismo... Talvez a maior diferença seja o salário...E olhe que as reclamações são as mesminhas.