"Fish and Chips"

 Embalado pra viagem é assim... 
Se você é daqueles super conscientizados com o meio ambiente e pensa que óleo de fritura é o mal a ser combatido no momento, melhor pôr a Escócia na sua lista vermelha (ainda tem circunflexo em “pôr”?). O povo banha tudo em óleo quente por aquelas bandas e sabe lá onde vão parar as sobras depois de usadas e reusadas. Carne, legumes, chocolate (sim, chocolate!), peixe, batata e o que mais aparecer fritos no mesmo tacho cheio de gordura (ao menos eles são a favor dos reutilizáveis – bom para o meio ambiente; efeito coquetel molotov para o corpo de quem se aventura). 
Uma das comidas rápidas mais populares na Escócia é chamada “fish and chips” (peixe e batatas). Uma bela posta de peixe temperada com sal e pimenta, banhada no óleo fervente, servida com batatas igualmente engorduradas e um pouco de vinagre por cima (eles dizem que o vinagre acentua o sabor- acentua, mas não melhora em nada). Tão popular quanto churrasquinho em Santarém. Receita simples o suficiente para ser feita em casa. Um aviso: antes de começar a fritar meio mundo, melhor prevenir. Tenha leite de magnésia à mão. Esteja certo de estar perto de um banheiro o suficiente  antes de iniciar a experiência quase suicida (o “suficiente” é calculado pela velocidade de suas pernas em metro por segundo após a ingestão de 5 ou 6 garfadas de peixe com 8 ou 10 batatinhas). É difícil encontrar qualquer coisa em situações de extrema urgência e há urgências que não esperam meeeesmo.  Não escolha este menu se estiver faminto. É possível que coma mais do que o previsto e suportável pelo seu organismo. 

As Jóias da Coroa Escocesa e a Pedra do Destino


O castelo de Edimburgo é por si uma maravilha  antiga. Investigar os recantos desse lugar é como assistir a um filme do lado de dentro da tela. Filme de guerra, com detalhes sangrentos que seriam um horror se vistos em cores e ao vivo.  Os soldados da guarda, as torres, o imenso pátio com vista deslumbrante fazem do castelo um lugar mágico igual ao dos livros de história medieval. E como nos livros, o castelo tem uma sala de tesouros. Preciosidades de história real e uma pitada de mistério. O cetro, a coroa e a espada são feitos de metais e pedras nobres. Já a Pedra do Destino parece mais uma enorme pedra ordinária. É, no entanto, o principal símbolo do orgulho escocês. Alguns dizem ser esta a mesma pedra que Jacó usou como travesseiro, mas daí já é exagero de escocês que tem a imaginação maior que o orgulho. Segundo relatos, essa tem sido a pedra utilizada como assento de coroação dos reis da Escócia e durante muitos anos foi colocada debaixo do trono britânico. Talvez como forma de os ingleses humilharem os escoceses que, por muito tempo lutaram contra os primos por uma nação autônoma. Não conseguiram. Ainda hoje há nacionalistas dispostos a romper o laço escocês com o Reino Unido. Mas daí, só mesmo um outro highlander Coração Valente  pra recomeçar essa guerra.
Como de praxis, eles não deixam tirar foto... Tomem minha palavra como testemunho de que as jóias e a pedra estão em algum lugar aí dentro.

Ps: O nacionalismo escossês ressurgiu de maneira intensa após a exibição do filme CoraçãoValente em 1995.

Ainda a caminho de Edimburgo

Um autêntico guerreiro highlander... Ehehehehe...
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Meus meninos e meninas da Jamaica


Falam mais do que ouvem, correm mais do que andam, andam mais do que devem e ouvem o que bem entendem, mas só fazem o que dá na telha. Quando não querem que eu entenda falam em Pátua. Se querem se fazer entendidos falam lenta e altamente (pensam que diferença de sotaque é sinônimo de surdez). Sou tia Wal quando querem fazer doce, sou “Miss” quando querem pedir favores, sou “dona” quando sabem que é hora de obedecer, sou “professora” quando me encontram na rua em meio de semana, e sou também colo para os que correram mais do que as pernas e pagaram com o nariz. Sou mil e uma entre os cinquenta cada domingo, tentando não perder o controle (o meu e o deles).   Com todas as peraltices do dia querem ser ajudantes, só pra poder mandar nos outros com ar de autoridade. Um dia me matam de rir, no outro me fazem querer arrancar os cabelos. E são tão fofos de derreter o coração. A parte mais doce e inocente do Caribe. 

O beco da Maria Rei







Escócia é um lugar cheio de surpresas, principalmente pra quem não olha onde pisa. Marcas da história estão literalmente sob os pés de quem vaga pelas ruas de Edimburgo, a capital escocesa. O castelo de Edimburgo é destino certo de turistas e historiadores. E foi a caminho do castelo que aprendemos sobre o beco da Maria Rei (Mary King’s Close). As ruas largas e mais estruturadas da Edimburgo atual foram construidas sobre outras ruas, casas e quarteirões inteiros. Mas o beco da Maria Rei foi preservado como testemunha de um passado enterrado há seculos.  Pra entrar no beco é preciso fazer uma viagem ao subsolo. A gente desce uns degraus e pronto, volta alguns 400 anos no tempo. É fascinante, mas não é pra claustrofóbicos. O lugar é escuro, apertado e fantasmagórico. A gente entra em casas ainda preservadas no beco, aprende sobre seus ex-moradores e tem uma descrição vívida sobre a vida, a morte e o sistema sanitário do século XVII nesta parte da Escócia.  Pouco mais de 400 anos atrás, você não gostaria de estar perambulando por este beco às 7 da manhã ou às 10 da noite. Este era o horário em que os moradores da vila costumavam se desfazer de todo o material fisiológico acumulado nos pinicos, bem ali, direto na rua. Os dejetos deslizavam pela ladeira íngrime até chegarem ao rio. Imaginei a cena, o cheiro, e não precisei de almoço por um tempo.
Obs: Maria Rei foi uma das moradoras mais influentes desse beco.  Uma negociante de tecidos que acabou emprestando o nome ao lugar.
Imagens e mais informações aqui... (eles não deixam tirar foto L)

A Casa Torta



Dizer que determinado prédio é antigo na Inglaterra é expressão batida. Tudo por lá parece temperado com aquela austeridade clássica que só o tempo pode produzir. Até anomalias de engenharia viram atração (por que não) histórica. É o caso da casa torta (crooked house of Windsor). Já foi mercado, açougue, joalheria, casa de antiguidades, lojinha de presentes... Interessante  a versatilidade desses lugares antigos. Quanto mais velho, mais eclético. A casa é torta de nascença. Foi contruída na época da rainha Elizabete I (1592) como Mercado. Ao que consta nos altos, o lugar também já foi moralmente capenga. Aqui, dizem as más línguas, o rei Charles II se encontrava com suas muitas amantes. Tem até uma passagem secreta que liga o castelo de Windsor ao torto destino do rei infiel. Passagem cerrada desde que o caso virou público demais (ou quando cortaram a cabeça do rei, não lembro... não, não, esse foi o outro Charles). Nada que o tempo não dignifique. Há cerca de 30 anos a casa torta é uma respeitável casa de chá, onde se experimenta o delicioso e autêntico chá inglês com todos aqueles cremes e geléias e pães e brioches  e chá, claro (quem se importa?).  Uma bomba calórica que engorda  a pança e emagrece o bolso. Experiência que, uma vez na vida, é mais do que suficiente (assim como peixe e batata frita na Escócia, mas essa já é uma outra história...). 

Visual novo

A praia aí no fundo é em homenagem à Jamaica... Eheheehehehe... Não sei como trocar a foto por uma mais autêntica, mas a similaridade é satisfatória.
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Enquanto isso na Jamaica

Quase explodi a cozinha tentando cozinhar frango na pressão outra vez (a primeira tentativa foi ainda no Brasil- mamãe precisou de um fogão novo depois da experiência). Quero deixar claro que não foi por falta de jeito, foi jeito demais. A panela tava com um problema na tampa, e a engenheira aqui decidiu que podia dar um... "jeitinho"  (brasileira, né). Um pouquinho de papel aqui e a jeringonça começou a fazer barulho. Sinal de que havia dado certo. Mas daí que pressão é feita de ... certo, vapor. Vapor é nada mais, nada menos que... muito bem, água em estado gasoso. Água mole em papel seco... Já viu que o papel não continuou no estado em que estava por muito tempo, né?!  Foi-se pelos ares e com ele o vapor aromatizado e engordurado sabor frango, impregnando paredes, teto, janelas e cortinas, sem falar do chão. Justamente no dia em que o marido decidiu trabalhar em casa. Passo com pano, balde, desinfetante e mais um arsenal de produtos de limpeza em frente à porta do escritório, em direção ao local da tragédia.
Ele (sem saber do caos): "Precisa de ajuda?",
"preciso de uma cozinha nova", penso, mas respondo: "não, tou fazendo terapia ocupacional enquanto o almoço apronta."
Uma hora depois, janelas sem cortinas, paredes e tetos desinfetados, spagetti no fogo, meu marido aparece na porta.
"Pensei que íamos ter frango pro almoço..."
"Mudança de última hora no cardápio... a receita anterior tava muito complicada."
"Mudou alguma coisa por aqui além do cardápio?"
"Não de propósito," respondo.
Antes de sair da cozinha, pergunta:
Cheiro estranho por aqui não é?
"É..."

Windsor

       É o maior e mais antigo castelo ainda habitado no mundo. Uma fabulosa construção de quase mil anos de idade. Colossal e imponente. Encantado. Caminhar pelos corredores do castelo é como voltar no tempo e testemunhar a história acontecendo ali, diante dos nossos olhos. Quadros que decoram as paredes ganham vida. Parecem se mover como os soldados reais que montam guarda vestidos em trajes de época. Molduras, móveis, objetos pessoais antigos, particularidades de uma imensidão a ser explorada. Tudo parece se encaixar num conto de reis e rainhas de livro infantil, com a diferença de que este é mesmo real.  Personagens da história britânica tem casado, vivido e morrido neste castelo. A rainha Victória com o marido Albert fizeram de Windsor sua casa oficial (minha rainha favorita). Elizabete I usou o castelo como centro de entretenimento diplomático. A  segunda Elizabete faz o mesmo. O castelo é uma de suas residências oficiais e é bastante usado para receber visitantes ilustres.  Passei quase um dia inteiro explorando o interior de Windsor e seus arredores.  Saí pouco depois de ver a bandeira da Inglaterra ser trocada pela bandeira que traz o brasão da família real.  Sinal de que a rainha havia chegado, a tempo para o chá inglês. Não me senti ofendida por não ter sido convidada. Não estava mesmo em trajes apropriados para o encontro com a realeza.
 

Castelo de Windsor

       Acima: anntes de chegar a Windsor...  o tamanho e a imponência do castelo impressionam.



Uma das entradas...proibida para gente comum  ( nós).




A torre principal e o fosso que circunda Windsor. A área do fosso era toda inundada no passado. Um dos mecanismos de defesa do castelo. Hoje serve unicamente como decoração, tendo sido tranformada num belo jardim. 


Acima: Soldadinhos em traje de gala e eu, descombinando... Da próxima vou levar vestido e chapéu na mochila... Ehehehe...


Bandeira britânica no alto da torre....


Passeio pela área externa... 


Bandeira da rainha! Chegou sem me avisar, a sapeca.



Acabei de batizar este ponto como torre to relógio. :)


              Thau Windsor.

Basingstoke


Há menos de 80 km ao sudoeste de Londres, fica Basingstoke. Cidade com menos de 100 mil habitantes e mais de mil anos de história. Foi palco de conflitos, foi ponto de boom industrial com produção de tecidos (o tecido gabardine foi criado lá), foi alvo de bombardeamento durante a 2ª guerra mundial e foi nossa parada inicial em terreno inglês. Daqui colhi impressões sobre o jeito de viver e de fazer britânico. Tive sol, chuva e neve em um só dia. Andei por mais de uma hora só pra me manter acordada (depois de 13 horas de viagem) e poder dormir na primeira noite européia. Perambulei por ruas e parques, mal sabendo em que parte do Reino Unido ficava a cidade que eu nem sabia como pronunciar o nome. Não levou muito tempo pra eu me acostumar ao fuso e aos sotaques variados deste lugar cosmopolita. Fui apresentada a gente de Barbados, da África do Sul, da Jamaica, da Alemanha, da China e, claro, a ingleses de nascença e de vivência. O barato de viajar é essa oportunidade de contato com pessoas de mundos diferentes do nosso e ainda assim tão parecidas com a gente. Pessoas que nos dão razão pra querer voltar lá. São esses contatos que acabam virando amigos e que agregam mais sentido e importância aos lugares. Pessoas que nos fazem sentir essa dor no peito que a gente chama saudade. 
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O Moinho de Winchester


Um moinho milenar ainda em funcionamento. Visitantes levam como souvenir farinha de trigo moída na hora. O maquinário histórico está localizado bem na área urbana de Winchester. Já foi de tudo e de todos. Foi símbolo de prosperidade, foi alvo de declínio econômico, foi alugado, emprestado, virou até presente de casamento. Considerado literalmente de todos quando virou patrimônio da cidade. Resiste ao tempo e à modernidade. Forte como o rio que o movimenta. 


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O Homem que Salvou a Catedral de Winchester


O nome dele é William Walker. No início do século XX a igreja estava cheia de rachaduras que ameaçavam todo o complexo arquitetônico. O motivo: muita água correndo no subsolo, o que colocava em risco as fundações do prédio. Um engenheiro brilhante teve a idéia de reforçar com concreto as bases da catedral, mas com tanta água, só mesmo um mergulhador profissional pra ajudar no serviço. É aí que William entra em ação. Ele trabalhou 6 horas ao dia durante seis anos (1906-1912) pra colocar 25 mil sacos de concreto debaixo da igreja. Deu certo. O prédio não caiu e o mergulhador virou herói com direito a estátua de honra e título de nobreza.

Para mais informações, aqui .
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Encontro em Winchester

Já ouviu falar de Orgulho e Preconceito? Emma? Senso e Sensibilidade? Todos filmes baseados em obras da Jane Austen, uma das mais famosas escritoras inglesas. Sempre escreveu sobre amor, casamento e herança apesar de nunca ter casado. Meu encontro com ela foi assim, por acaso, na catedral de Winchester. Esses ingleses tem mania de enterrar seus mortos famosos em igrejas famosas. E, eu, que aprendi a olhar pra parede desde o incidente no salão de Winchester, entretida que tava olhando as placas na catedral de Winchester, esqueci de olhar para o chão.
“Olha só, uma placa de homenagem a Jane Austen!”
“Sim, querida,” responde meu marido. “E você está bem em cima da sepultura dela.” 
Mas com tanta gente enterrada lá, não tem mesmo como evitar pisar em uma outra celebridade histórica. E a igreja, por si, é um espetáculo de arquitetura.
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Onde está a távola redonda?


     Lembra do rei Artur e dos cavaleiros da távola redonda? Fui apresentada à távola no castelo de Winchester. Primeiro, passei batida ao encontrar um salão quase vazio. Pensei que a mesa tinha encolhido ou era mágica do tipo "só os inteligentes podem ver." Pessoas à minha volta comentavam sobre as cores, os nomes gravados, o designer... e eu sem ver nada. Demorou uns minutinhos pra perceber que não era problema de tamanho, mas era mesmo questão de QI.  Lá estava ela, massiva e redonda, pendurada nos altos de uma das paredes do salão. Imagine se fosse menorzinha...
A távola exibida no salão de Winchester  data de 1270. Não é a original, mas tem idade e história suficiente pra ganhar notoriedade. As listas e as histórias sobre o rei Artur variam. A mesa the Winchester lista 25 nomes de cavaleiros. O formato da mesa representa a igualdade dos membros da cavalaria de Artur.
O príncipe Charles e a princesa Diana tiveram um jantar com outras gentes da nobreza nesse salão em mil novecentos e não lembro, tendo a távola como pano de fundo. Se a mesa gigante tivesse despencado da parede...

Justificativa

Este espaço acaba de ser promovido a diário de viagens. Como em sessão nostalgia seguem algumas aventuras passadas.  Aqui e ali prometo escrever alguma coisa do presente, direto da Jamaica, a meio caminho das Américas. Registro erros e gafes com a desculpa de ser honesta e com a pretensão de ser cômica. Afinal, se não for informativo, que seja divertido. E se nem um nem outro, prometo ser breve, porque não há pecado mais grave no mundo das letras do que discurso ruim e longo. Seja como for, aqui vem o Bichinho outra vez, viajado e cheio de história pra contar.
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Este blog...


...está de volta.
Em homenagem à Iara!
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