Em um orfanato na Jamaica

Entre os muitos orfanatos da Jamaica, um conquistou meu respeito e simpatia. Não é a regra. É uma animadora excessão num país onde crianças nascem como que ao acaso e são tidas como estorvo (parece familiar?). Cerca de 30 crianças recebem boa alimentação, roupas, educação fora do ambiente de claustro, reforço escolar para os que não acompanham o ritmo na escola, até aulas de natação numa piscina que veio como bênção extra com a casa recém adquirida. As aulas de natação são mais do que atividade extra curricular e exercício. São vistas como conhecimento básico na ilha onde mais de 90% da população não sabe nadar. Cercados por água e por tanta praia bonita, é mesmo uma pena, mas fato.  Os membros da equipe tomam como desafio. “Se entrou boiando, sai nadando”. E os molequinhos adoram.  Viram patinhos assim que chegam da escola. Trocam os uniformes por calções de banho e o próximo barulho que se ouve é um splash seguido por alagamento nas bordas do tanque. Os meninos maiores não tem os mesmos privilégios diários, mas, uma vez por semana, ganham um passeio como prêmio por bom comportamento. Quem fez tudo direitinho tem um dia de lazer em uma das praias de Montego Bay. O sucesso do prêmio garante a ordem nos outros dias. A instituição já funcionou em pelo menos outros quatro lugares, e agora tem paradeiro final num local extraordinariamente adequado. Não é o melhor lugar. O melhor lugar pra criança se chama lar, por mais pobre que seja, perto da família (real, adotada, do coração ou como queiram), por mais imperfeita que seja (não são todas?) . Não precisa observar muito pra saber que qualquer uma daquelas crianças trocaria todo o conforto que têm nesse orfanato dos sonhos por um colo de mãe de verdade. Ainda assim, um bom lugar para meninos e meninas que sofreram o bastante por uma vida. Crianças rejeitadas, espancadas, abusadas, abandonadas nas ruas jamaicanas, traumatizadas pelo mau dos outros têm, neste lugar, o que podem chamar de casa. E pensar que elas são privilegiadas se comparadas com as crianças de outras instituições, cuja realidade é muito mais dura, muito mais fria e muito mais parecida com a idéia que temos de orfanato.
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