Dunnothar



O castelo Dunnothar (o que restou dele)  é um dos mais antigos da Escócia. Suas ruínas  são testemunhas de relatos incríveis, sangrentos, romanescos, inspiradores, escruciantemente tristes, por vezes quase engraçados,  outras, repugnantes.  Andar por entre seus muros e paredes semi-destruídos é uma experiência inesquecível.
A história não é bonita. É composta de sangue inocente derramado, traição e intrigas, numa exposição semi-nua da maldade humana, ainda que pincelada de nobreza por algum ou outro historiador. Mas o castelo em si, emana a dignidade dos gigantes ainda não tombados. Nem o tempo, nem os homens foram capazes de apagar a imponência de Dunnothar.  
Os primeiros relatos de sítio contra o castelo datam de 680 AD. Situado em posição privilegiada, cercado de proteção natural, Dunnothar era uma fortaleza quase invencível.  Quando sitiado, geralmente tinha mantimentos e guarnição suficiente pra durar  meses. Se faltava armamento, o sistema sanitário passava a ser fonte alternativa. O que se coletava nos banheiros ia parar na cabeça dos inimigos literalmente em ponto bala. Quem disse que armamento biológico é coisa nova?  Aqui, dizem, as jóias da coroa escocesa foram protegidas das mãos inglesas por oito meses a fio, contando apenas com uma pequena guarnição contra o poderoso exército inglês. O castelo foi abrigo de personalidades históricas como Maria, Rainha dos Escoceses, William Wallace, Marquês de Montrose e o rei Charles II. 
William Wallace, o herói escocês que é retratado em Coração Valente, teve nas dependências do castelo uma de suas mais arrebatadoras vitórias. Soldados ingleses capturados após a batalha foram incinerados vivos na capela do castelo. Era a retaliação violenta pelas violências sofridas. Vingança, ainda que não seja nobre, é considerada legítima por alguns.
Num outro episódio violento e triste, 122 homens e 45 mulheres  foram mantidos presos em condições sub-humanas dentro de uma única cela conhecida como Caverna dos Whigs (1685). Muitos morreram ali mesmo, outros morreram a caminho do exílio.  O crime: professar uma fé diferente da do rei escocês.
 Em tempos de paz o castelo esbanjava banquetes e festas nas quais  a comida era de primeira,  o vinho era dos melhores, mas ninguem sequer ouvia falar em bons hábitos de higiene.
Os rochedos e o mar que ajudaram a proteger Dunnothar ainda hoje o embelezam. Depois de turistas, pássaros costeiros são os visitantes mais frequentes. Ajudam a dar nova vida ao castelo e a amenizar a imagem austera de passado sanguinário.




Fotos: Ken Rathbun & Wal Nascimento. A terceira foto, de cima pra baixo, foi tirada na caverna dos Whigs (Whigs' Vault).
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