Menino Carvoeiro

Crianças continuam sendo encontradas em carvoarias de Santarém. Acompanhando ou ajudando os pais no trabalho, elas enfrentam diariamente os riscos oferecidos pelo local. Passei cerca de uma hora numa dessas carvoarias. O suficiente para sair de lá com os pulmões pedindo socorro e os cabelos estragados pela fumaça. O calor é praticamente insuportável. Encontrei por lá um menino que já entrevistei na escola. Inteligente e tagarela, ele me presenteou com uma sonora super engraçada sobre um projeto escolar. Agora magrinho, rosto, mãos e pés sujos de carvão, quase nào o reconheci. Mas foi falador como sempre e me explicou tin tin por tin tin porque tinha que ir pra carvoaria. E como as coisas estavam difíceis em casa. E que a irmã estava doente e a mãe era sozinha e essas coisas que deixam a gente engasgada, com o choro entalado na garganta. Ele não faz parte de nenhum desses programas nacionais de auxílio social (distribuiçao de renda que eu chamo de esmola disfarçada) e eu fico pensando o que um menino com todo esse potencial poderia fazer com essas mãozinhas calejadas, em vez de catar carvão. A mãe apareceu depois. Veio correndo, toda atrapalhada, tropeçou nas sandálias. Igualmente suja. Cabelos assanhados e rosto tingido de fuligem.Tive pena. Culpada? Não queria mais fazer matéria de nada... Quem deve ser responsabilizado nessa história toda afinal de contas? O Conselho tutelar autuou a mãe, despachou as crianças que estavam com ela, e, prometeu inserir o menino no tal programa assim que ela comparecesse na audiência marcada. Meu colega cinegrafista pegou imagens deles sumindo na estrada, com sacas de carvão na cabeça, que o editor, neste momento, deve estar usando pra fechar o vt.
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