O bom dia e as minhas crises de humor

Acordar às 3 e meia da manhã para entrar no ar às 4 e meia, maquiada e bem disposta pra dizer um "bom dia! Veja nesta ediçao". Isso sem saber como preencher 20 minutos de jornal que estão sobrando. Menos mal que a minha equipe é uma trupe anti-stress, faça chuva ou faça sol... O dia está só começando...
Entre a exibiçao de uma reportagem e outra, a gente decide o que transformar em nota pra esticar o tempo. E aí , vale até dizer que "não foi dessa vez que as meninas do vôlei levaram um título mundial." E a memória, que nunca foi confiável, não ajuda. Esqueço as chaves da redação e tenho que usar o computador dos editores para montar o que ainda falta no jornal. Tudo bem. Só não tem sofá azul, pra dormir um pouco depois do Bom Dia, antes de sair pra externa, às 7 da manhã. Vale a salinha de gravação mesmo, com uma toalha grande e uma blusa de frio, tudo se resolve. E doril pra aliviar a dor nas costas que ficam um ba-ga-ço. Lembrei agora de um amigo que vive a se queixar disso, ó pá!
Fim de plantão. Eu tenho que encontrar um local para dormir. A casa mais próxima e a de uma amiga querida. Sempre tem um quarto esperando por mim. Mas dessa vez  não dá porque o marido dela decidiu montar uma marcenaria temporária no quintal. Também tem as crianças, dois anjinhos que adoram brincar de Israel e Palestina o dia todo. Cansada do jeito que estou só mesmo a casa da mãe pra resolver. Longe da civilização, longe do barulho dos carros, longe, longe... É pra lá mesmo.
Chego em casa e é como se tivesse errado de endereço. Cheiro de cigarro e música brega tocando no meu sonzinho (sacrilégio!). Dou de cara com um cidadão que eu nunca tinha visto na vida.
_ Oi, dona Markilze!
E ainda me confundem com outra repórter na minha própria casa...
_ Wal, meu senhor.
_ Desculpe dona Wal, diz ele soltando uma baforada de cigarro quase na minha lata, é que... _ E aí vai me explicando cheio de detalhes como se confundiu e como foi parar na minha casa e como vai permanecer a tarde toda... _Sinto saudades da guerra de Israel e Palestina. Minha mãe chega logo depois dizendo que o homem tá trocando a instalaçao elétrica e que vai colocar um espelho no banheiro.
_ É rápido, minha filha.
Rápido. O barulhinho da furadeira penetra o travesseiro e os meus tímpanos.A dor de cabeça é digna de pensamentos de suicídio.
Levanto para beber água e olhar com uma cara deste tamanho para o meu torturador.
_ Vixe, lhe acordei Dona?
_ Não. Imagina, senhor. Foi a sede.
_ Ah, bão... Diz ele com cara de quem realmente acreditou.
Volto pra cama com um livro na mão. O barulho continua, até que...
_ plaft! Pin! Din! lin! Lin!
Era uma vez um espelho.
_ Shuts! (o que ele falou num dá pra publicar aqui). Cruz , credo! Sete anos de azar... Ô Dona Wal...
E não é que ele aprendeu o meu nome rapidinho?!
Depois de um banho de descarrego (só de lágrimas), chego à tv para editar o jornal do próximo dia e ainda descubro que me levaram 50 reais. Quase 10 da noite e eu ainda NÃO DORMI. Casa 1, 2, 3...Sofá azul! Lá está ele convidativo. Sofazinho azul tão, tão...só cinco minutinhos... E eu não vejo mais nada.
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