Um poema do Mário

Louco como ele... e eu que sou louca tb por ele, claro... rs.

TINHA UM LOUCO NA VARANDA E UMA LOUCA ATRÁS DA IGREJA

Não que ele estivesse ali esperando que ela passasse por ele
e ele num impulso esticasse o braço e acenasse.
Pedisse.
Não que ela estivesse escondida atrás da igreja
fazendo um percurso mais longo
mas mais seguro.
Negasse.
Mas era um caminho que não a obrigava a passar na frente dele.
Não que ele fosse pensar que
caso ela passasse na frente da varanda dele ela queria.
Muito embora ele não sabia o que ela queria.
Mas ela desconfiava do que ele queria.
E, cá entre nós e lá, entre eles
ele também desconfiava do que ela queria.
Os dois eram loucos.
Internos.
Diziam para eles e para o outro que ali era um condomímio.
Mas eles sabiamos dois
que ali não era um condomínio.
E sabiam também que ninguém fica à toa numa varanda exposto.
E que ninguém fica à toa atrás da igreja se escondendo.
Ficar atrás da igreja significa ir à procura da igreja?
Proteção?
Mas além de uma varanda e uma igreja qual era a loucura de cada um deles?
Isso era tudo que ele queria saber dela.
Por que ela estava atrás da igreja.
Isso era tudo que ela queria saber dele.
Porque estava na frente da varanda se expondo tanto?
Ela câncer
ele pneumonia.
Ele aquário
ela gata ouvindo peixinhos sertanejos.
Treze livros quarto treze.
No quarto ela se perguntava o mesmo que ele:
o que é que eu estou fazendo aqui?
O que é que essa loucura quer comigo?
O que é que eu não quero com essa loucura?
Os loucos.
Nem a diferença de idade nem a diferença de loucura fazia com que um ignorasse o outro.
Um na varanda.
A outra atrás da igreja.
Onde é que esses dois doidos vão se encontrar?
Na varanda?Atrás da igreja?
E se a igreja tivesse uma varanda?
E se a varanda tivesse um altar?
Os loucos têm medo.Um do outro.
O da varanda finge que não tem.
Mas ele sabe que ele tem.
Ela também tem e sabe que ele tem.
Medo.
Adoro o jogo desses dois lindos doidos.

Mário Prata.
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