Um conto ligeiro da vida real

Lá estava eu naquele impasse de ir ou adiar mais uma vez o reencontro. Longe de ser um sacrifício, essas reuniões sempre me trouxeram prazer e boas lembranças. Talvez fosse este o maior motivo do medo. Queria evitar que aquilo se transformasse em um trágico arremedo de passado. Eu estava com medo das reações, das expressões faciais que dizem mais do que palavras digitadas.... eu temia olhares de reprovação ou de pêsames. Eu tinha coisas agradáveis pra contar, mas naquele momento só me passavam pela memória, como em um desfile, as muitas possibilidades perdidas. Não era a reação dos outros, era a minha própria que me assustava mais. Era o medo do imprevisível. Um dia mais não mudaria o estado das coisas nem meu estado de humor. Hora de enfrentar meus gigantes. Decidi marcar a reunião naquele sábado. Mas notícias ruins correm mais depressa do que boas intenções e tem o poder de nos desarmar de tudo, até dos medos. O encontro marcado virou compromisso inadiável. Ítalo, com pressa de nascer, deu um susto em todos. A mãe sempre foi alterada, mas dessa vez exagerou. Pressão alta, início de eclâmpsia. Eu nem sabia o que era eclâmpsia. Desespero dos parentes. Até um Você Decide dramático aconteceu. Mas não precisou escolher. Mãe e filho se saíram muito bem. E de repente lá estava eu com aquele pedacinho de nada no colo. Notícias ruins aproximam. E lá estávamos nós, outra vez reunidas, celebrando a passagem de uma notícia ruim para a comemoração de um milagre. Celebrando a vida, acima de tudo.
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