A bolsa
9:14 PM
Minha bolsa foi esquecida não sei onde e de lá furtada não sei por quem. E eu me senti desolada.
Não pelo dinheiro, pelo cartão, pelo celular... Sim! Por isso também. Muito mais, no entanto, por toda a carga semântica e sentimental daquele pedacinho de nada.
Bolsas são partes nossas, pertencentes ao nosso universo. Se vc não é mulher não pode fazer idéia do que é uma bolsa de mulher. É, por assim dizer, uma extensão de nós. O depósito de alguns de nossos mais guardados segredos e onde sempre encontramos o que necessário e o supérfluo necessário a toda mulher. A bolsa nos dá a falsa segurança de que tudo está lá. E nunca está lá da primeira vez que procuramos. É preciso uma segunda busca, quem sabe uma terceira, mais minuciosa, onde tudo vai sendo colocado do lado de fora. E os homens nunca entendem como uma bolsa tão pequena e delicada pode levar aquela montanha de coisas que vai sendo tirada de lá.
E como são pesadas. Já tive uma maiorzinha onde era possível encontrar até uma enciclopédia barsa. Ai, minha bolsa tem ainda o agravante sentimental de ser presente, logo, com um valor inestimável. Eu sei, eu sei... os que me conhecem sabem também da minha memória curta e da falta de atenção habitual que me faz perder dinheiro, celular, documentos, bolsas, até a cabeça... É uma falha que virou traço de personalidade. E não pensem que me acostumei com isso. Eu bem sei do esforço mental que faço para não esquecer das coisas por aí. Forcei-me a comprar uma caneta azul, para lembrar a cor do carro da externa para o qual eu tive que me dirigir todos os dias do mês passado. Nem mentira eu posso contar, porque vou esquecer da versão falsa e me contradizer em questão de minutos. E isso é até bom. Um mau hábito a menos.
Quanto à minha bolsa, o alguém que a pegou, só queria mesmo o dinheiro, o celular, o cartão de crédito, que eu já cancelei. Fez-me o favor de deixar a bolsa, tadinha, sozinha ao relento, até que uma boa alma a encontrou. Estou olhando pra ela agora, com a sensação de ter estado nua na frente de estranhos.
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