Assalto

Quebraram o nariz dele com uma coronha de revólver.
Foi ontem à noite. Por volta das 7. Foi abordado por dois sujeitos encapuzados, o baixinho com um revólver na mão, o outro, mais alto e magro, com uma faca que reluzia com a claridade da luz da rua... Era a primeira vez que era assaltado em mais de 70 anos de vida. Em nenhum momento disseram "mãos pra cima!". Não conseguia lembrar se era o bandido ou a policia que dizia isso nos filmes policiais que assistira. O sangue ferveu quando o nanico apontou o revólver pra ele. Num reflexo, as mãos se ergueram e seguraram os pulsos do bandido com força, pra cima. O outro soltou a faca, agarrou-o pelas costas. Um grito foi ouvido pelo vizinho. Outro grito, desta vez de dor. Seu Clodomir (acho que é esse o nome do vizinho), de toalha, ainda teve tempo de ver os bandidos correrem e pegarem uma moto... No chão estava o velhinho, todo ensanguentado. Pela manhã, nariz operado pelo melhor otorrino da cidade, sulcos roxos em volta dos olhos, voz anasalada, o médico peruano, nacionalizado brasileiro, sente uma satisfaçao visível quando conta e reconta a mesma história... Está cercado por repórteres e, com certeza, vai ser um dos assuntos do dia. Os olhos dele brilham quando faço cara de espanto e depois, calculadamente, de aprovação, por tanta bravura. "Eram dois - diz em tom solene- mais novos e mais fortes do que eu. Um deles me jogou no chão e houve luta corporal e... não sei de onde tanta força para superar tão grande perigo"... O sotaque dele me faz lembrar Dom Quixote e eu ainda me deixo ficar alguns instantes, olhando o repórter da vez coletar o mesmo depoimento, rico em detalhes...
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